Lembrei-me de escrever este post à uns meses atrás na sala de reuniões da empresa onde trabalhava (HOME INSTEAD Senior Care Maia).
Sendo uma empresa vocacionada para o apoio domiciliário (cuidados não médicos a idosos e dependentes) ouvia muitas histórias de e acerca de pessoas idosas que, seja por doença ou outro motivo qualquer, precisam de alguém que lhes faça companhia durante o dia ou mesmo durante a noite quando os familiares não podem.
Todas essas histórias faziam-me muitas vezes lembrar de duas pessoas que me marcaram muito, apesar de não saberem e de já não lhes poder dizer, tanto pelo modo como viveram as suas vidas como por tudo aquilo que me ensinaram: os meus avós maternos.
Não fizeram comigo muitas das coisas que, normalmente, os avós fazem pelos netos (tratar deles quando são bebés, ir buscar-los à escola quando andam na primária, e muitas outras coisas) simplesmente porque não foi preciso, porque se fosse, de certeza que eles o fariam mesmo que, para isso tivessem de fazer um esforço suplementar.
Mas não é por não terem feito isso que eu deixo de gostar e de me lembrar de deles sempre que me sinto em baixo e preciso de uma força para me animar. Porque mesmo com os vossos problemas vocês não deixavam de tentar ajudar.
Sinto saudades das tardes de Sábado que passavamos em vossa casa: o meu pai na garagem com o avô, a minha mãe a ajudar a avó, e nós (eu, os meus irmãos e alguns primos) a fazermos as asneiras (ou não) próprias da nossa idade. Recordo também os vossos sorrisos de felicidade, quando chegavamos. Quando passo agora naquela casa não posso deixar de sentir um misto de tristeza e saudade porque, apesar de ter sido reconstruida, está abandonada sem ninguém a habitar e isso realmente faz-me muita pena por todas as memórias especiais (boas e más (que também as há)) que tenho daquele sitio. E tenho pena que a tenham abandonado por razões puramente egoístas de algumas pessoas.
Também sinto saudades daquilo a que, na altura, chamavamos tortura, pois passavamos horas e horas dentro do carro à espera que vocês fizessem as vossas compras na feira da Apúlia. Pelo menos uma vez por mês era esse o nosso programa para a tarde de Domingo.
Uma coisa que eu não fiz muitas vezes foi ir de férias com vocês. Todos os anos ia a familia toda para uma casa que alugavam na Apúlia (não era sempre a mesma casa o sitio é que era sempre o mesmo). Era pior do que os "ajuntamentos" de sabádo. Mas eram sempre momentos bem passados mesmo para aquelas pessoas que, como eu, só lá iam de visita.
A única vez que me lembro de ter passado com eles mais de um dia de férias foi o último ano que alugaram a casa da Apúlia... Mas se havia de correr mal foi nesse ano. A minha prima caiu do muro e aleijou-se um dos meus irmãos foi mordido por um bicho e ficou com o olho do tamanho de 2 a minha prima chateou-se comigo não sei bem porquê... Mas tudo isso passou e agora só nos restam as recordar com saudades os velhos tempos passados naquela pequena terra de pescadores.
Avô:
Lembro-me perfeitamente do momento em que recebi a noticia de que tinhas partido e não pude deixar de chorar não só por ti mas pela minha mãe que via em ti um porto de abrigo a que ela podia recorrer sempre que precisava.
Sei que ela sente a tua falta assim como o meu pai, com o qual tinhas uma relação como eu nunca vi entre um genro e um sogro. Sempre que era preciso tanto tu como ele estavam disponíveis para se ajudar mutuamente. Eras como o pai que ele perdeu novo.
Depois de teres partido nunca mais joguei dominó com a mesma vontade que jogava contigo nas tardes de natal. Apesar de achar chato tu e o meu pai demorarem muito a fazer as vossas jogadas eu adorava ficar a tentar perceber como é que vocês jogavam e conseguiam ganhar a maior parte das vezes.
Avó
Foi por pouco que não passaste a barreira dos 100 anos mas no meu coração a tua memória continua viva e os teus anos a contar.
Tenho pena de não ter estado mais presente nos teus ultimos dias.
Talvez por cobardia ou por medo não quis ir ver-te mais vezes quando realmente precisavas de uma companhia ou de uma pessoa que te desse a mão sem esperar receber algo em troca.
Que saudades dos teus cozinhados!!!!! Já muitas vezes tentaram reproduzi-los mas sem sucesso porque nada sabe melhor do que aquela comida saborosa que só tu sabias fazer.
A minha mãe ainda conta histórias de quando era pequena e do grande esforço que tiveram de fazer para sobreviver à pobreza que se fazia sentir naquele tempo. Eu não posso deixar de sorrir, porque algumas coisas “nem ao Diabo lembra“, e de reparar que os tempo mudaram bastante e muito rapidamente.
Mas são coisas da vida e de certo que isso ajudou tanto a minha mãe como os meus tios a serem as pessoas que são hoje.
Para mim estarão sempre na minha memória e eu nunca os hei-de esquecer.
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
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